quinta-feira, 25 de março de 2010

Momento Ilusório



O sol se punha, e a noite colocara seu esplendor misterioso no céu. Sombras iniciavam suas articulações em vários cantos e o barulho da solidão ficava cada vez mais denso. Ele sabia que essa seria sua punição por ter decidido afrontar a leis das coisas.Algumas horas anteriormente, ao sair daquele bar, percebera que lhe restava agarrar-se à um cobertor de desesperança.

Deixara uma menina chorando naquele bar, deixara uma solução para alguns problemas no outro lado da rua.A noite já era soberana, e um drinque era tão necessário quanto uma lufada de ar no pulmão. Ele negara o amor nesta noite, sendo levado pelo remorso ao cais da cidade. Com uma garrafa como companheira desabafou com a Lua.

Tinha vergonha de tamanha covardia que havia feito a Heloísa.Amara intensamente por dias, lambuzou-se em excessos com aquela mulher por vários meses. Tinha certeza que achara um sentido para aquela existência mórbida e dolorosa. Mas o peso de não poder dividir um futuro e satisfazer alguém que ele amava o torturava, decidindo por fim naquilo. A negou por três vezes naquele bar, como diz naquelas histórias da Bíblia. Não era Judas, não trairá ninguém, mas não foi capaz de amar, como Pedro. A garrafa já estava vazia e o chão era algo movediço.

Heloísa venho atrás dele, mas quando ele notou a garota, lhe alertou para não chegar perto, pois a desgraça estava feita.Foi muito rápido, realmente o abraço da morte é um mistério, pois ele se jogou na frente de um sedan que passava perto do cais, voando em direção às águas. Heloísa não entendera nada e foi tentar salvar seu amado, mas era impedido por algum popular que acompanhava a cena. Ela queria amá-lo mais uma vez, mas o corpo inerte e sem vida não ofereceria novamente essa oportunidade.

Heloísa sabia que ele era “soro positivo”, assim dividiu aquele fardo por livre espontânea vontade, e encurtou a própria vida para amar alguém condenado a não poder desfrutar a vida normalmente. João não vivia fazia anos um amor, e quando surgiu, perdeu-se na melancolia, em vez de perder-se no amor. Heloísa quis dividir o fardo do amado, e em uma noite deitou-se com João, amou, em vez de se sentir morrer, sentia uma voragem pela vida. Não, não tornara-se uma condenada, podia com partilhar a dor de seu parceiro, porém João nunca se perdoou por "encurtar" a vida de Heloísa com a doença que nem sabia com havia adquirido, João desde aquele momento viveu entre profunda paixão e terror. Mas agora, jamais se saberia, Heloísa irá até o fim carregando sozinha a culpa de não entender e o fardo em sua alma.

Apenas tinha uma convicção, o amor a enganou e a destruiu.

Dionysius M.

No terreno baldio.

Ele simplesmente desistiu da maré humana de todos os dias, aglomerada em meio ao caos organizadamente assustador e eterno . A solução foi encontrar uma brecha para essa infinita corrente de desespero e acomodação, um local onde poderia parar.

E a brecha foi achada, para lá se assentar, passando sois e luas, invernos e outubros. Décadas era algo perturbador, que ele esquecera de lembrar. Lá ele podia viver, morrer e correr. A vontade era apenas pela vida, e a fome e tristeza se tornaram meras lembranças, para mais em frente terem como companhia muitos anseios que decidira apagar da existência.Não mais pessoa se sentia, e sim algo que fluía através daquele terreno.

Ao olhar para a cerca ao lado, despertou uma lembrança sobre aquela que lhe dava algum conforto carnal e emocional... Porém a imagem começava sumir, algo que realmente não desejava, e lágrimas voltaram à existir. Sentiu a melancolia escorrer o rosto, sentiu suas mãos suar, sentiu seu corpo se mexendo, a vida não era mais moldável e sólida como antes e sim distante voltara se tornar, como sempre foi. Humano novamente, retirou-se daquele terreno baldio, onde por alguns segundos seus pensamentos ficaram incontáveis universos distantes do peso da realidade.

A maré humana insiste em continuar a percorrer um fluxo sem fim, como se fosse um monstro sem face à caminhar rumo ao fim do mundo. João conseguira fugir naquele terreno mas para poder ficar por lá para sempre deveria esquecer tudo, para se-lo só seu, mas a lembrança dela o impediu de tornar-se próprio de toda existência, pois em meio àquele fluxo de gente, sua Eurídice estava lá.

João novamente adentrou o terreno baldio, para lá esquecer de tudo , só que desta vez em definitivo, pois resgata-la daquele inferno e salvar-se a si mesmo era impossível.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O um de todos (2)

É, não consegui sobrepujar minha sofridão.