quinta-feira, 26 de março de 2009

Reflexão rápida de um tampão nesse blog vazio.

Estou tentando, não sou um super leitor, mas gosto muito de escrever e ler. Não tenho habilidade para ser quem sabe alguém de influência no meio "culto", mas é divertido poder postar ao "léu" na Internet produções próprias e que ficariam guardadas em alguma gaveta ou caderno velho.
Se alguém ler e curtir os textos, e quem saiba, queira dividir produções textuais para trocar uma ideia, tomar um whisky com gelo e ouvir Cartola. Seria um prazer...

Amante casual

Faça-se presente então,
para contestar e destruir meu
estilo corrupto de felicidade.

Faça-se ausente agora, nas horas
que puder, para que não cause
vazio no horário de alegria
e indefesa.

Quero que tu tenha fim, e ela
não acabe tão cedo e seja tão itensa
quanto tu, ridicula tristeza.

Pareceme que tu és minha amante, sim!
Tenho um caso com este maldito sentimento
que quando me deixa, me esquece e decide
vagar longe e em outros. Sinto que falta...

E tem a ousadia de voltar para me cobrar mais companhia.
Quem sabe eu quero que não tenhas um fim, mas que fique
menos intensa ao me ver assim: feliz.

Dionysius M.

Para não dizer tristeza.

Havia aula em março, recomeço para uns, fim para outros. Elias e Camila tinham aula no mesmo colégio, e viviam se provocando no intuito de ver quem teria a maior doença de tristeza, um mal do homem contemporâneo. Ou só mais um jeito complexo de se dizer que está mal do sentimento, que lhe falta felicidade. Elias ia para aula de ônibus, bem cedo e o intinerário entrava fundo em locais humildes, no qual a humanidade se resumia a restos de madeiras entulhadas como morada, onde olhares se perdia em alguma esperança de algo utópico. Ela por outro lado, ia em um intinerário mais pomposo e urbano, por bairros ricos, no mesmo horário do trajeto de Elias. Nos dois caminhos, pessoas cinzas, bucólicas, com olhares preocupados, cheias de uma tristeza que nenhum abismo seria capaz de ser mais fundo.
Os dois se encontram no salão principal do colégio e descutem verbalmente para ver que tem a maior dor, a maior depressão sentimental. Elias fita Camila com uma calma assassina e lha fala:
-A tristeza de quem tem tudo, ou a tristeza de quem não tem nada?
Camila rapidamente responde com um certo desconforto: -Voce é ridiculo!
A garota mostra a mão aberta para Elias e sai caminhando agarrada aos seus materiais de estudo como se procurasse algo para se segurar, para não despencar em mais um dia cinzento. Camila após refletir sobre o que o rapaz falou, sentou-se numa mesa da lanchonete, bem no fundo, tomou um gole,demoradamente, de seu refrigerante e chorou.

terça-feira, 24 de março de 2009

Velhas Casas


Jorge era mais um dos habitantes do pelourinho, famoso bairro de Salvador, cuja fama se devia mais a sua pobreza do que qualquer outro motivo. A maioria das moradias daquele lugar eram casas velhas, aquelas que só a Bahia poderia ter, Jorge nasceu odiando todas elas. Pois nascera em uma, fruto de uma prostitua e um traficante de drogas do outro bairro.
As velhas casas da Bahia, essas onde se atulham tudo que é tipo de gente, da negra vendedora de dendê ao transexual. Jorge morava em uma dessas velhas casas da Bahia, e cada dia que passava naquele lugar, sentia mais vontade de explodir todo aquele bairro, mas não podia algo lhe dizia que não deveria deixar de qualquer jeito aquele mundo de drogas e falsos prazeres.
Então trabalhava, para juntar bastante dinheiro e quem sabe sair de lá com a cabeça erguida, pois na cabeça de Jorge, conseguir algum dinheiro desonestamente o tornaria tão igual àquelas casas velhas e o pregaria naquele furdunço interminável até o final de sua vidinha pacata.
O homem trabalhava, em uma empreiteira que arrumava telhados de casas antigas, um trabalho cansativo, perigoso e mal remunerado. Porém Jorge não conseguia achar emprego melhor, era analfabeto e não sabia o que era um dia de aula. Ele trabalhava com suas telhas, sempre repetindo baixinho.
-Eu vou sair daqui, eu vou sair daqui, eu juro que vou sair daqui...
Todos que o conheciam o achavam louco, mas ele não dava atenção para comentários lhe rebaixando a um simples louco que trocava telhas, mas um dia, todos eles veriam, pensava Jorge indo embora daquele lugar de casas desgraçadas.
Certo dia, ao chegar extenuado do trabalho, percebeu que sua mãe estava lhe esperando na porta de seu pequeno lar. A negra tentou abraçar Jorge, mas ele escapou do abraço e entrou na peça. Sua mãe veio logo atrás e fazendo uma cara de dó tão falsa quanto o prazer que uma prostituta oferece, implorou:
-Filho dá um dinheiro pra tua mãe.
-Sai daqui velha mercenária, nunca me ajudou e quer que lhe ajude sua traste.
-Não fala assim de tua mãe!
-Falo o que eu quiser na minha casa, velha cadela!
O rosto da negra se enrugou, ficou brabo como um Exu e saiu a revirar todos móveis do lugar, para achar o dinheiro. Jorge estava fulo, já não era a primeira vez que aquilo acontecia, sem contar nas pessoas que tentavam olhar pela janela o que acontecia. Ao olhar para sua mãe novamente, viu que ela segurava um pote de vidro cheio de notas e moedas de dinheiro.
-Devolve isso agora!
A negra iria abrir o pote, mas a mão calejada de Jorge a impedia. Em uma disputa entre o passado e o presente dele, o resultado seria o futuro. Com um puxão forte ele conseguiu pegar o pote, mas a negra não desistia, até que no meio do entrevero, o pote escorregou dos dois. Escorregou como se zombasse de Jorge, como se dissesse que ele nunca sairia daquela vida de velhas casas da Bahia. E o pote foi em direção à janela e caiu lá embaixo, no meio da calçada.
O barulho foi forte, e o vidro se despedaçou junto com a alma de Jorge.

Dionysius M.