terça-feira, 24 de março de 2009

Velhas Casas


Jorge era mais um dos habitantes do pelourinho, famoso bairro de Salvador, cuja fama se devia mais a sua pobreza do que qualquer outro motivo. A maioria das moradias daquele lugar eram casas velhas, aquelas que só a Bahia poderia ter, Jorge nasceu odiando todas elas. Pois nascera em uma, fruto de uma prostitua e um traficante de drogas do outro bairro.
As velhas casas da Bahia, essas onde se atulham tudo que é tipo de gente, da negra vendedora de dendê ao transexual. Jorge morava em uma dessas velhas casas da Bahia, e cada dia que passava naquele lugar, sentia mais vontade de explodir todo aquele bairro, mas não podia algo lhe dizia que não deveria deixar de qualquer jeito aquele mundo de drogas e falsos prazeres.
Então trabalhava, para juntar bastante dinheiro e quem sabe sair de lá com a cabeça erguida, pois na cabeça de Jorge, conseguir algum dinheiro desonestamente o tornaria tão igual àquelas casas velhas e o pregaria naquele furdunço interminável até o final de sua vidinha pacata.
O homem trabalhava, em uma empreiteira que arrumava telhados de casas antigas, um trabalho cansativo, perigoso e mal remunerado. Porém Jorge não conseguia achar emprego melhor, era analfabeto e não sabia o que era um dia de aula. Ele trabalhava com suas telhas, sempre repetindo baixinho.
-Eu vou sair daqui, eu vou sair daqui, eu juro que vou sair daqui...
Todos que o conheciam o achavam louco, mas ele não dava atenção para comentários lhe rebaixando a um simples louco que trocava telhas, mas um dia, todos eles veriam, pensava Jorge indo embora daquele lugar de casas desgraçadas.
Certo dia, ao chegar extenuado do trabalho, percebeu que sua mãe estava lhe esperando na porta de seu pequeno lar. A negra tentou abraçar Jorge, mas ele escapou do abraço e entrou na peça. Sua mãe veio logo atrás e fazendo uma cara de dó tão falsa quanto o prazer que uma prostituta oferece, implorou:
-Filho dá um dinheiro pra tua mãe.
-Sai daqui velha mercenária, nunca me ajudou e quer que lhe ajude sua traste.
-Não fala assim de tua mãe!
-Falo o que eu quiser na minha casa, velha cadela!
O rosto da negra se enrugou, ficou brabo como um Exu e saiu a revirar todos móveis do lugar, para achar o dinheiro. Jorge estava fulo, já não era a primeira vez que aquilo acontecia, sem contar nas pessoas que tentavam olhar pela janela o que acontecia. Ao olhar para sua mãe novamente, viu que ela segurava um pote de vidro cheio de notas e moedas de dinheiro.
-Devolve isso agora!
A negra iria abrir o pote, mas a mão calejada de Jorge a impedia. Em uma disputa entre o passado e o presente dele, o resultado seria o futuro. Com um puxão forte ele conseguiu pegar o pote, mas a negra não desistia, até que no meio do entrevero, o pote escorregou dos dois. Escorregou como se zombasse de Jorge, como se dissesse que ele nunca sairia daquela vida de velhas casas da Bahia. E o pote foi em direção à janela e caiu lá embaixo, no meio da calçada.
O barulho foi forte, e o vidro se despedaçou junto com a alma de Jorge.

Dionysius M.

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