quinta-feira, 25 de março de 2010

No terreno baldio.

Ele simplesmente desistiu da maré humana de todos os dias, aglomerada em meio ao caos organizadamente assustador e eterno . A solução foi encontrar uma brecha para essa infinita corrente de desespero e acomodação, um local onde poderia parar.

E a brecha foi achada, para lá se assentar, passando sois e luas, invernos e outubros. Décadas era algo perturbador, que ele esquecera de lembrar. Lá ele podia viver, morrer e correr. A vontade era apenas pela vida, e a fome e tristeza se tornaram meras lembranças, para mais em frente terem como companhia muitos anseios que decidira apagar da existência.Não mais pessoa se sentia, e sim algo que fluía através daquele terreno.

Ao olhar para a cerca ao lado, despertou uma lembrança sobre aquela que lhe dava algum conforto carnal e emocional... Porém a imagem começava sumir, algo que realmente não desejava, e lágrimas voltaram à existir. Sentiu a melancolia escorrer o rosto, sentiu suas mãos suar, sentiu seu corpo se mexendo, a vida não era mais moldável e sólida como antes e sim distante voltara se tornar, como sempre foi. Humano novamente, retirou-se daquele terreno baldio, onde por alguns segundos seus pensamentos ficaram incontáveis universos distantes do peso da realidade.

A maré humana insiste em continuar a percorrer um fluxo sem fim, como se fosse um monstro sem face à caminhar rumo ao fim do mundo. João conseguira fugir naquele terreno mas para poder ficar por lá para sempre deveria esquecer tudo, para se-lo só seu, mas a lembrança dela o impediu de tornar-se próprio de toda existência, pois em meio àquele fluxo de gente, sua Eurídice estava lá.

João novamente adentrou o terreno baldio, para lá esquecer de tudo , só que desta vez em definitivo, pois resgata-la daquele inferno e salvar-se a si mesmo era impossível.

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