quarta-feira, 4 de maio de 2011

Agulha no palheiro.

A situação é a seguinte. A vida estende caminhos sonoramente tranquilos, e quando se percebe, você não os escolheu. E eles ficam distantes, o som é longínquo, a luz torna-se fraca e algo lhe diz que irá demorar para encontrar aquele odor de felicidade, misturado com bolo recentemente feito e café quente em uma manhã sem nada pra fazer.
Quando você se deu conta, o silêncio é único, porém não há paz.

Sai andando pelo centro da cidade à procura de não sei o que, mas estava procurando. Quem sabe ache no rosto desconhecido daquele moço que irá passar, ou daquele velho jogado aos farrapos na frente de um banco. Olho para o chão, preciso pensar. Não! Em meio ao turbilhão de estranhos, seria uma presa fácil para qualquer coisa, melhor fumar um cigarro ao lado daquele bar, ao lado daqueles trágicos bêbados, ao lado de uma mulher estranha e sofrida, ao lado do nada. Diante de tragédias cotidianas, de olhares fúteis ou perdidos em epóca de sol quente e tempo frio, estou a praguejar contra o que acontece fumando, para tatear alguma coisa na nevóa da inacreditável melancolia.
Fumaça. Agradável sensação de se sentir presente. Fumaça. Alguém me pede fogo, consome, supre o vicio e vai embora, nenhum obrigado. Fumaça. A mágica é não ser percebido. Fumaça.
Tempo demais para agourar o mundo. Caminho mais, olhando pra cima. Prédios velhos, logo olho para frente, e ninguém percebe a beleza do caminhar daquela criança com um balão, nem o sol acariciando um bela tarde de inverno. O cheiro de pipoca me anima. Porém não procuro beleza ou nostalgia.
Por quanto tempo caminho? Quem sabe décadas não seja um exagero. Mentira, não tenho nem duas décadas de vida. Quem sabe anos. Nunca andei aqui nesse horário. Vou entrar naquele bar, beijar mais fumaça, um ensejo ao dono daquela lugar farei, alguma ilusão vou achar em meio a um delicioso gole de cerveja. Não, conhaque com gelo é melhor agora em uma bela tarde, com cheiro de pipoca, com velhotes em farrapos, crianças correndo e desafios na minha frente.
Mais tardar, ainda procuro. Me lembro do tesouro perdido. É você. Queria lembrar, onde foi que lhe beijei, não lembro, não digo as partes do teu corpo, no qual pude tocar com a boca perdida em vontades, essas lembranças não cessam, digo onde e quando, um mistério. Por isso que fico perambulando por ai. Quiçá a beijar sombras, olhando rostos desconhecidos, para sentir algum sentimento parecido que tive com você. Não acho. Por hora só resta um sorriso desesperado, uma coçada na cabeça, mais um cigarro e uma alma melancólica.
Não há nada nesse dia. Amanhã volto.

Dionysius Mattos.

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